Texto originalmente publicado na minha newsletter
Algumas sementes, quando em ambientes pouco favoráveis para o seu desenvolvimento – abastecimento de água, temperatura e oxigênio – entram em um processo chamado de quiescência. Significa que elas ficam em um estado de pausa, aguardando para que a situação externa mude e que, por fim, possam germinar.
Em 2018 fiz uma série de fotografias com o mesmo nome. Elas mostram um ambiente calmo, congelado pelo tempo e aguardando para que algo novo aconteça. Era como eu me sentia então; é como me sinto agora.
Creio que muitas pessoas estejam compartilhando do mesmo sentimento.
Na época, escrevi o seguinte texto para expressar o que aquelas fotografias significavam para mim:
“Observa-se um estado de paz e sossego, em que o futuro é incerto e o passado já se fora. Não há nada que cause preocupação naquele momento e, consequentemente, teme-se o que está por vir.
A solidão causa ansiedade e não permite reconciliação com ela mesma. Pode-se apenas compreender o presente. É uma representação da tempestade interna sendo transmitida com despreocupação para quem observa.”
Tempestade interna.
O que pensar quando uma situação tão perigosa envolve a população? Como não pensar? O que fazer a respeito, senão esperar?
Em tempos de crise eu busco me concentrar nas coisas que me dão ânimo, que me fazem ficar distraído, porque passar o dia todo sendo consumido por notícias catastróficas também não é saudável. Existe uma diferença entre alienação e cuidado com a própria saúde mental.
Portanto, eu espero. Assim como sementes que não germinam porque não estão nas condições adequadas, eu me guardo para um futuro promissor. Não sei o que acontecerá nele. Ainda não consegui uma máquina do tempo.
A única coisa que posso fazer é abrir as janelas do meu olhar através de fotografias e deixar que você seja absorvida, nem que por pequenos instantes, pela total quietude de uma paisagem que descansa em seu momento eterno.